O Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) divulga através de nota a solidariedade ao Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) pelo processo de reintegração de posse de uma área de 15 hectares no assentamento Normandia, na zona rural de Caruaru, realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que afeta o terreno do Centro de Formação Paulo Freire.
Confira abaixo a nota na íntegra:
Nota de solidariedade ao MST e contra o despejo do Centro de Formação Paulo Freire
O Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, por meio desta nota, posiciona-se em defesa do Centro de Formação Paulo Freire (CFPF), espaço de referência nacional mantido pelo Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST), situado no Assentamento Normandia em Caruaru (PE). Fundado há mais de 20 anos, o Centro é parceiro de ensino, pesquisa e extensão de diversas Instituições de Ensino Superior do campo e da cidade como a UFPE, UPE, IFPE, FIOCRUZ, UFRPE, UAG e IPA, sendo referência nacional e internacional ao sediar cursos de especialização, mestrado e doutorado. Além disso, como se apresenta no próprio nome, trata-se de uma importante iniciativa de manter vivo entre nós o legado internacionalmente reconhecido de Paulo Freire, ex-professor do curso de Serviço Social da UFPE, humanista, defensor dos direitos humanos e perseguido pela ditadura militar pelo seu envolvimento na luta contra a repressão e as opressões.
Junto às iniciativas mais recentes que atacam violentamente o direito à educação de milhares de trabalhadoras e trabalhadores, atingindo especialmente o Nordeste brasileiro, como os cortes de verbas no orçamento das Universidades e Institutos Federais, intervenção autoritária e intransigente na autonomia dessas instituições, tentativa de completo desmonte e privatização da ciência e tecnologia via Programa Future-se, além do histórico fechamento de inúmeras escolas do campo, a ordem de despejo do Centro de Formação Paulo Freire soma-se a mais um desses ataques.
A reintegração de posse que também inclui 03 agroindústrias da agricultura familiar fornecedoras de merenda escolar para vários municípios do estado foi determinada no dia 21 de agosto, pela a 24ª Vara Federal em favor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – órgão federal ligado à reforma agrária e hoje comandado por um general do exército. Vale lembrar que é a agricultura familiar e camponesa que alimenta o país, e que o desenvolvimento do campo e a produção de alimentos têm ligação direta com a educação comprometida com a emancipação humana, com os projetos pedagógicos vinculados aos movimentos sociais e a ampla defesa dos direitos humanos. Tais iniciativas, portanto, estão em completa consonância com os valores, princípios e orientações da formação e do exercício profissional do Serviço Social no Brasil e do seu Projeto ético-político.
Portanto, nos solidarizamos com o MST e nos somamos à luta em defesa dos territórios de resistência, da democratização das terras e do saber.
Departamento de Serviço Social da UFPE
Recife, 11 de setembro de 2019